Justiça
concede reintegração de posse do Museu do Índio no Rio
- 18/07/2016 19h46
- Rio de Janeiro
Akemi
Nitahara - Repórter da Agência Brasil*
A Justiça Federal concedeu hoje
(18) à Fundação Nacional do Índio (Funai) mandado de reintegração de posse do
Museu do Índio, que fica em Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro. O local está
ocupado desde quarta-feira (13), quando a própria Funai fez um chamado para o
movimento indígena nacional fazer atos em suas sedes em todo o Brasil contra
cortes na instituição.
O ato convocado pela Funai acabou
no mesmo dia mas, segundo a fundação, um grupo resolveu ficar no local. “Foram
realizadas tratativas entre os servidores do museu e os ocupantes para que
estes deixassem as instalações, o que não ocorreu”. Na tarde de ontem (17), os
índios que ocupavam o local, integrantes da Aldeia Maracanã – que por sete anos ocupou o
antigo Museu do Índio, ao lado do estádio do Maracanã – fizeram uma
manifestação em frente ao museu de Botafogo.
De acordo com o professor
bilíngue Uratau Guajajara, os indígenas resolveram permanecer no local para reivindicar
a reintegração de posse da Aldeia Maracanã, a extinção da Proposta de Emenda à
Constituição (PEC) 215, que passa para o Congresso Nacional a responsabilidade
sobre a demarcação das terras indígenas e quilombolas, e a realização de
eleições entre os índios para escolher o presidente da Funai e os diretores do
Museu do Índio.
“Resolvemos ficar, mas aí
entramos em choque com o museu, que disse que era tudo brincadeira, ocupar
Funai é brincadeira. Dissemos que não. 'Nós ocupamos para fazer as reivindicações'.
Aí, a direção atual do Museu do Índio veio a nós, começamos a fazer um ritual,
mas a guarda começou a chutar o ritual, dizendo que não iríamos ficar ali. A
segurança começou a chegar, se aglomerar e, logo em seguida, os Fulni-ô
chegaram por trás, quer dizer, estava tudo organizado. Os Fulni-ô foram por
trás e nós, distraídos, já começaram a baixar o cacete”, relatou Uratau
Guajajara.
De acordo com a Funai, “o grupo
permaneceu no local e acendeu uma fogueira no jardim da instituição, colocando
em risco os acervos e o conjunto arquitetônico tombado pelo Iphan [Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional]”.
Vídeos e fotos postados nas redes
sociais por apoiadores da ocupação e da Aldeia Maracanã mostram o confronto,
com indígenas feridos e pessoas batendo em outras com pedaços de pau. Segundo o
escritor Pedro Rios Leão, que estava na ocupação e também apanhou, as agressões
ocorreram na noite de sábado (16) e também após o ato de domingo (17).
“Gritei que não estava fazendo
nada e fiquei só me encolhendo em posição fetal. Quatro homens me agarraram com
pedaços de pau, dois seguranças. Poderiam ter aberto o portão e me jogado na
rua, eu sequer estava me debatendo, mas resolveram me jogar no chão e me
espancar na frente de todo mundo. Só apanhei menos porque outras pessoas
entraram e, no fim,l eles não tinham como bater em todo mundo, nem poderiam
matar ninguém”, contou Leão.
Ele disse que a polícia só
apareceu após o confronto. “Como eles, ou espancavam a gente até a morte ou se
evadiam, porque estavam sendo filmados, eles se evadiram. A Polícia Federal só
chegou depois disso, não prendeu ninguém, não pegou os agressores, que tiveram
a vida mais tranquila do mundo. Agora teve o pedido de reintegração de posse,
ou seja, estamos sendo punidos por ter sido espancados.”
Sobre as agressões, a Funai
informa que indígenas da etnia Fulni-ô, que estão no Rio de Janeiro para
atividade apoiada pelo museu, “reagiram a agressões contra um servidor indígena
do museu, que vinha sendo alvo de insultos e difamação por parte dos
ocupantes”. A instituição manifesta “apreensão diante da paralisação das
atividades do Museu do Índio, desde a última quarta-feira (13), assim como pela
segurança do seu acervo histórico”. A Funai acrescenta que vai pedir que a
Polícia Federal apure o caso.
*Colaborou
Carol Barreto, repórter do Radiojornalismo EBC
Edição: Nádia
Franco
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