Cassado em 1992, Fernando Collor diz que
impeachment não é golpe
- 30/08/2016
18h30
- Brasília
Iolando Lourenço e Mariana Jungmann - Repórteres da Agência
Brasil
O senador Fernando Collor fala durante o quinto dia de
julgamento final do processo de impeachment da presidenta afastadaFabio
Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Primeiro
presidente na história do país a sofrer um impeachment, o senador
Fernando Collor de Mello (PTB-AL) subiu hoje (30) à tribuna do Senado para
declarar que votará favorável ao impedimento da presidenta afastada Dilma
Rousseff.
Ao
embasar seu voto, o ex-presidente aproveitou para provocar movimentos que, em
1992, pediram a sua condenação e hoje defendem o governo petista. “Faço minhas,
hoje, as palavras de dois documentos daquele período”, disse, citando primeiro
uma nota assinada em 1º de julho de 1992, por várias entidades, entre elas
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Central Única dos
Trabalhadores (CUT), CGT, União Nacional dos Estudantes (UNE) e Inesc.
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“O
primeiro [documento] diz: 'a constatação de que a crise que abala a nação não
é, como se pretende insinuar, nem fantasiosa, nem orquestrada, porém, originada
do próprio Poder Executivo, que se torna, assim, o único responsável pela
ingovernabilidade que ele mesmo criou e que tenta transferir para outros
setores da sociedade'. Como disse, faço minhas, hoje, as palavras acima”, disse
Collor.
Em
seguida, o senador citou outra nota, também da época de seu impeachment,
assinada pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) que diz: “O país não vive,
como alardeiam setores mais radicais, qualquer clima de golpe até porque a
nação não suporta mais tal prática. O que o povo brasileiro deseja, e tem
manifestado seguidamente, é a decência e a firmeza traduzidas na transparência
e probidade no trato da coisa pública”.
No
discurso, Collor lembrou detalhes do processo que sofreu em 1992, que culminou
na sua condenação pelo Parlamento e afastamento da política por 14 anos –
embora tenha sido absolvido posteriormente dos crimes pelo Supremo Tribunal
Federal (STF).
Para
ele, o que ocorreu há 24 anos foi uma injustiça, diferentemente do que ocorre
hoje no Brasil. Na opinião dele, a presidenta Dilma Rousseff infringiu a lei e
provocou a própria derrocada. “Hoje, a situação é completamente diversa. Além
de infração às normas orçamentárias e fiscais com textual previsão na
Constituição como crime de responsabilidade, o governo afastado transformou sua
gestão numa tragédia anunciada. É o desfecho típico de governo que faz da
cegueira econômica o seu calvário e da surdez política, o seu cadafalso”,
afirmou.
O
ex-presidente também rechaçou a ideia de que o que está ocorrendo no país seja
um golpe institucional. Na opinião dele, o impeachment “é o remédio
constitucional de urgência no presidencialismo quando o governo, além de
cometer crime de responsabilidade, perde as rédeas do comando político e da
direção econômica do país”.
Edição: Carolina Pimentel
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