Governo diz que fechou 13 mil leitos do SUS para
acompanhar tendência
Oferta de leitos hospitalares para a
população está abaixo do mínimo estipulado pela OMS e secretário considera como
“tendência mundial”
Durante governo Dilma 13 mil
leitos hospitalares foram fechados. Enquanto isso a população padece devido ao
atendimento precarizado, mas, segundo o secretário de Atenção a Saúde do
Ministério da Saúde, Fausto Pereira dos Santos, a política de saúde adotada
segue “uma tendência mundial”.
A afirmação do secretário Fausto
foi dada em resposta durante reportagem veiculada no Bom dia Brasil desta
última segunda-feira (11) na TV Globo, sobre a redução de leitos públicos
enfrentada no país. Segundo ele, a redução ocorreu em “hospitais privados
contratos ao SUS. Em leitos psiquiátricos e pequenos hospitais”. E que ela é
compensada graças aos chamados leitos “extra-hospitalares” em Unidades de
Pronto-Atendimento, e CAPS.
A oferta de leitos no Brasil está
abaixo do que é recomendado pela Organização Mundial da Saúde.
A situação é crítica, o estado de
Roraima tem uma única UTI com 33 leitos para atender a toda a população, quase
400 mil pessoas. Isso sem falar nos leitos improvisados nos corredores dos
hospitais, realidade de norte a sul do país.
A média nacional é de 2,3 leitos
por mil habitantes, segundo dados da Organização Mundial da Saúde, tanto nos
hospitais públicos quanto nos particulares. O país não chega nem ao mínimo
recomendado pela OMS, que são de três leitos para cada grupo de mil habitantes.
Segundo os dados de 2013 da OMS
sobre a quantidade de leitos hospitalares por mil habitantes, o Brasil está
longe de seguir uma tendência mundial. O Japão no ano passado já possuía 13,7
leitos por mil habitantes, Alemanha (8,2), França (6,6), Cuba (5,1), Argentina
(4,5), China (3,9), Itália (3,5), Portugal (3,3), Canadá (3,2), Espanha (3,2),
EUA (3).
SUBFINANCIAMENTO
A falta de leitos públicos no
país e a crise pela qual o Sistema Único de Saúde passa atualmente tem um motivo:
a falta de investimento público na saúde brasileira. Segundo levantamento do
Conselho Federal de Medicina (CFM), apresentado no último jornal da entidade, o
gasto per capita é de R$ 3,05 por dia.
Este é o valor que os governos
federal, estaduais e municipais aplicaram em 2013 para cobrir as despesas dos
mais de 200 milhões de brasileiros usuários do SUS.
As informações levantadas pelo
CFM consideraram as despesas apresentadas pela Secretaria do Tesouro Nacional,
do Ministério da Fazenda, “por meio de relatórios resumidos de execução
orçamentária, e fazem parte da chamada ‘função saúde’. Em 2013, as despesas nos
três níveis de gestão atingiram a cifra de R$ 220,9 bilhões. Além de custear
ações diretas em saúde, os recursos incluídos na ‘função saúde’ também são
utilizados no pagamento de funcionários, dentre outras despesas de custeio da
máquina pública. Portanto, o que atendimento da população é menor do que os
números encontrados no levantamento”, ressalta o CFM.
As informações do CFM dialogam
com os dados da “Estatísticas Sanitárias 2014” da Organização Mundial da Saúde
(OMS). Segundo os cálculos da OMS, enquanto no Brasil o gasto público em saúde
alcançava US$ 512 por pessoa, na Inglaterra, por exemplo, esse investimento era
cinco vezes maior: US$ 3.031. Em outros países de sistema universal de saúde, a
regra é a mesma: França (US$ 3.813), Alemanha (US$ 3.819), Canadá (US$ 3.982),
Espanha (US$ 2.175), Austrália (US$ 4.052) e até a Argentina (US$ 576) aplicam
mais que o Brasil.
Segundo relatório do Tribunal de
Contas da União (TCU), 64% de 116 hospitais visitados apresentam taxa de
ocupação da emergência maior do que a capacidade prevista, e em 19% essa
situação ocorre com alguma frequência. Em apenas 6% não ocorre essa
superlotação.
Análise do orçamento da União
prova que nos últimos 13 anos (2001 a 2013) foram autorizados R$ 80,5 bilhões
específicos para investimentos. No entanto, apenas R$ 33 bilhões foram
efetivamente gastos e outros R$ 47,5 bilhões deixaram de ser investidos. Em
outras palavras, de cada R$ 10 previstos para a melhoria da infraestrutura em
saúde, R$ 6 deixaram de ser aplicados.
SOBRECARGA
Enquanto os estados são obrigados
a aplicar 12% de seu orçamento em saúde e os municípios, 15%, a União tem
apenas a obrigatoriedade de investir o que foi gasto no ano anterior, mais a
variação do Produto Interno Bruto (PIB).
No orçamento de 2013, o governo
federal destinou apenas 6,9% do seu orçamento para a saúde. “E isso é o que
está na lei, porque, na realidade, os municípios estão investindo muito mais,
alguns superam 25% do orçamento com gastos em saúde”, explica o 1º secretário
do CFM, Desiré Callegari.
MAÍRA CAMPOS
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