Petróleo e gás natural podem não ser fósseis
Agostinho Rosa - 03/08/2009
Teorias famosas
O Universo originou-se de uma descomunal explosão,
conhecida como Big Bang. O petróleo e o gás natural são combustíveis fósseis.
Estas são provavelmente as duas teorias científicas mais disseminadas, de maior
conhecimento do público e algumas das que alcançaram maior sucesso em toda a
história da ciência.
Elas são tão populares que é fácil esquecer que são
exatamente isto - teorias científicas, e não descrições de fatos testemunhados
pela história. Mesmo porque as duas oferecem explicações para eventos que se
sucederam muito antes do surgimento do homem na Terra.
Teoria dos combustíveis
fósseis
Segundo a teoria dos combustíveis fósseis, que é a
mais aceita atualmente sobre a origem do petróleo e do gás natural, organismos
vivos morreram, foram enterrados, comprimidos e aquecidos sob pesadas camadas
de sedimentos na crosta terrestre, onde sofreram transformações químicas até
originar o petróleo e o gás natural.
É com base nesta teoria que chamamos as principais
fontes de energia do mundo moderno de "combustíveis fósseis" - porque
seriam resultado de restos modificados de seres vivos.
Teoria do petróleo abiótico
Muito menos disseminado é o fato de que esta não é
a única teoria para explicar o surgimento do petróleo. Na verdade, esta teoria
hegemônica vem sendo cada vez mais questionada por um grande número de
cientistas, que defendem que o petróleo tem uma origem abiótica, ou abiogênica
- sem relação com formas de vida.
Os defensores da teoria abiótica do petróleo têm
inúmeros argumentos. Por exemplo, a inexistência de fenômenos geológicos que
possam explicar o soterramento de grandes massas vivas, como florestas, que
deveriam ser cobertas antes que tivessem tempo de se decompor totalmente ao ar
livre, juntamente com a inconsistência das hipóteses de uma deposição do
carbono livre na atmosfera no período jovem da Terra, quando suas temperaturas
seriam muito altas.
A deposição lenta, como registrada por todos os
fósseis, não parece se aplicar, uma vez que as camadas geológicas apresentam
variações muito claras, o que permite sua datação com bastante precisão. Já os
depósitos petrolíferos praticamente não apresentam alterações químicas
variáveis com a profundidade, tendo virtualmente a mesma assinatura biológica
em toda a sua extensão.
Além disso, os organismos vivos têm mais de 90% de
água e mesmo que a totalidade de sua massa sólida fosse convertida em petróleo
não haveria como explicar a quantidade de petróleo que já foi extraída até
hoje.
Outros fenômenos geológicos, para explicar uma
eventual deposição quase "instantânea," deveriam ocorrer de forma
disseminada - para explicar a grande distribuição das reservas petrolíferas ao
longo do planeta - e em grande intensidade - suficiente para explicar os
gigantescos volumes de petróleo já localizados e extraídos.
Carbono do interior da Terra
Por essas e por outras razões, vários pesquisadores
afirmam que nem petróleo, nem gás natural e nem mesmo o carvão, são
combustíveis fósseis. Para isso, afirmam eles, o ciclo do carbono na Terra
deveria ser um ciclo fechado, restrito à crosta superficial do planeta, sem
nenhuma troca com o interior da Terra. E não há razões para se acreditar em tal
hipótese.
Na verdade, aí está, segundo a teoria dos
combustíveis abióticos, a origem do petróleo, do gás natural e do carvão: eles
se originam do carbono que é "bombeado" continuamente pelas
altíssimas pressões do interior da Terra em direção à superfície.
É possível sintetizar hidrocarbonetos a partir de
matéria orgânica, e estes experimentos foram, por muitos anos, o principal
sustentáculo da teoria dos combustíveis fósseis.
Mas agora, pela primeira vez, um grupo de
cientistas conseguiu demonstrar experimentalmente a síntese do etano e de
outros hidrocarbonetos pesados em condições não-biológicas. O experimento
reproduz as condições de pressão e temperatura existentes no manto superior, a
camada da Terra abaixo da crosta.
Metano e etano abióticos
A pesquisa foi feita por cientistas do Laboratório
de Geofísica da Instituição Carnegie, nos Estados Unidos, em conjunto com
colegas da Suécia e da Rússia, onde a teoria do petróleo abiótico surgiu e tem
muito mais aceitação acadêmica do que em outras partes do mundo.
O metano (CH4) é o principal constituinte do gás
natural, enquanto o etano (C2H6) é usado como matéria-prima petroquímica. Esses
dois hidrocarbonetos, juntamente com outros associados aos combustíveis de
origem geológica, são chamados de hidrocarbonetos saturados porque eles têm
ligações únicas e simples, saturadas com hidrogênio.
Utilizando uma célula de pressão, conhecida como
bigorna de diamante, e uma fonte de calor a laser, os cientistas começaram o
experimento submetendo o metano a pressões mais de 20 mil vezes maiores do que
a pressão atmosférica ao nível do mar, e a temperaturas variando de 700° C a
mais de 1.200° C. Estas condições de temperatura e pressão reproduzem as
condições ambientais encontradas no manto superior da Terra, entre 65 e 150
quilômetros de profundidade.
No interior da célula de pressão, o metano reagiu e
formou etano, propano, butano, hidrogênio molecular e grafite. Os cientistas
então submeteram o etano às mesmas condições e o resultado foi a formação de
metano. Ou seja, as reações são reversíveis.
Essas reações fornecem evidências de que os
hidrocarbonetos pesados podem existir nas camadas mais profundas da Terra,
muito abaixo dos limites onde seria razoável supor a existência de matéria
orgânica soterrada.
Reações reversíveis
Outro resultado importante da pesquisa é que a
reversibilidade das reações implica que a síntese de hidrocarbonetos saturados
é termodinamicamente controlada e não exige a presença de matéria orgânica.
"Nós ficamos intrigados por experiências
anteriores e previsões teóricas," afirma Alexander Goncharov, um dos
autores da pesquisa. "Experimentos feitos há alguns anos submeteram o
metano a altas pressões e temperaturas, demonstrando que hidrocarbonetos mais
pesados se formam a partir do metano sob condições de temperatura e pressão
muito similares. Entretanto, as moléculas não puderam ser identificadas e era
provável que houvesse uma distribuição."
"Nós superamos esse problema com nossa técnica
aprimorada de aquecimento a laser, que nos permitiu aquecer um volume maior de
maneira mais uniforme. Com isso, descobrimos que o metano pode ser produzido a
partir do etano", declarou Goncharov.
Hidrocarbonetos gerados no
interior da Terra
"A ideia de que os hidrocarbonetos gerados no
manto migram para a crosta terrestre e contribuem para a formação dos
reservatórios de óleo e gás foi levantada na Rússia e na Ucrânia muito anos
atrás. A síntese e a estabilidade dos compostos estudados aqui, assim como a
presença dos hidrocarbonetos pesados ao longo de todas as condições no interior
do manto da Terra agora precisarão ser exploradas," explica outro autor da
pesquisa, professor Anton Kolesnikov.
"Além disso, a extensão na qual esse carbono
'reduzido' sobrevive à migração até a crosta, sem se oxidar em CO2, precisa ser
descoberta. Essas e outras questões relacionadas demonstram a necessidade de um
programa de novos estudos teóricos e experimentais para estudar o destino do
carbono nas profundezas da Terra," conclui o pesquisador.
Bibliografia:
Methane-derived hydrocarbons produced under upper-mantle conditions
Anton Kolesnikov, Vladimir G. Kutcherov, Alexander F. Goncharov
Nature Geoscience
26 July 2009
Vol.: Published online
DOI: 10.1038/ngeo591
Methane-derived hydrocarbons produced under upper-mantle conditions
Anton Kolesnikov, Vladimir G. Kutcherov, Alexander F. Goncharov
Nature Geoscience
26 July 2009
Vol.: Published online
DOI: 10.1038/ngeo591
Nenhum comentário:
Postar um comentário